Os pinguins de Adélie da Antárctica estão a sofrer grandes perturbações ao seu modo de vida com as alterações climáticas a aquecerem o seu habitat, dizem os especialistas.
Algumas populações estão a florescer mas a maioria está em declínio rápido e acentuado.
Os pinguins dependem das plataformas de gelo marinho para obter o seu alimento de krill mas também precisam que o gelo recue no Verão para terem acesso às suas colónias de nidificação em terra.
Estas condições já foram fornecidas na perfeição pelas latitudes medianas da Península Antárctica mas isso já não é verdade.
"Essa região tem vindo a experimentar o aquecimento mais rápido durante o Inverno de todo o planeta", diz Bill Fraser, ecologista do Polar Oceans Research Group de Sheridan, Montana. "As temperaturas de meio do Inverno rondam agora os 6ºC acima do que eram há 50 anos."
Se esta tendência continuar, Fraser prevê que os pinguins de Adélie se extingam localmente no espaço de 5 a 10 anos.
"Eles são os clássicos canários na mina de carvão, ou seja, eles estão a responder às alterações que estão a ocorrer a uma escala gigantesca", explica Fraser. "Trata-se de alterações à escala global, não é apenas a Península Antárctica que está a aquecer."
Doug Martinson é um oceanógrafo físico da Universidade de Columbia, no Lamont-Doherty Earth Observatory de Palisades, Nova Iorque. Ele notou que o aquecimento especialmente rápido da península deve estar associado a factores únicos da região.
"A península está a sofrer um aquecimento que no Inverno é quase 5,5 vezes superior à média global. Tem que existir uma outra fonte de calor que está a derreter os glaciares e a subir a temperatura do ar e a fonte mais óbvia é o oceano."
A água tem uma capacidade de transportar calor muito superior à do ar e com o aquecimento das regiões equatoriais, o calor atinge as camadas mais profundas do oceano. As correntes oceânicas de águas profundas trazem este calor para o pólo sul, onde é capturado pela corrente circumpolar antárctica, a 'misturadora global principal', como Martinson a chama.
À medida que esta corrente passa ao largo da Península Antárctica parte da sua água mais quente atinge a plataforma continental, mistura-se que as águas mais superficiais e envia calor para a atmosfera.
"A circulação das águas oceânicas profundas está a trazer água para a nossa área da península que, logo abaixo da superfície, é 4ºC acima do ponto de congelação", diz Martinson. "É um comboio de carvão incandescente que vem descarregar nesta zona frígida."
Nas últimas décadas, Martinson descobriu que o gelo marinho começou a derreter muito mais cedo e a congelar muito mais tarde. "O Verão livre de gelo marinho é agora 85 dias mais longo do que costumava ser na década de 80, o que praticamente duplica a duração da estação aqui, pelo menos no que diz respeito ao gelo."
Mas nem tudo são más notícias para os pinguins de Adélie, diz Fraser. Com o aquecimento da Península Antárctica, as zonas mais a sul da Antárctica tornaram-se lares mais hospitaleiros para a espécie.
As populações de pinguins de Adélie na zona mais a sul da península triplicaram em relação a décadas anteriores e outras espécies que não toleram o gelo estão a deslocar-se para os habitats antárcticos mais quentes, anteriormente ocupados pelos pinguins de Adélie, algumas espécies tendo aumentado 7500% desde 1974.
No entanto, o perigo permanece pois todas as partes da Antárctica podem vir a aquecer para além do intervalo de temperatura óptima para os pinguins de Adélie. "Pouco a pouco, um pinguim de Adélie pode lidar com praticamente tudo", diz Fraser. "Vê-los a ser tão dramaticamente afectados pelas alterações climáticas [de origem humana], é particularmente difícil de tolerar."
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