O estádio estava lotado para o clássico Bahia e Vitória, o BA-VI. Pela primeira vez eu veria um jogo de futebol ao vivo. Eu e meu pai estávamos na Tribuna de honra. Ele, vidrado no campo com o inseparável radinho de pilha na orelha. Era um ondas curtas que transmitia o sinal de rádios do mundo todo. Um xodó que funcionou bem por mais de vinte anos, até que um dia pifou.
- Eu vou te dar um rádio novo, mais moderno, pai.
-Eu tenho muito apreço por este, filha. Já tentei consertar aqui em Salvador, mas não tem assistência técnica. Será que você não conhece algum serviço em São Paulo?
Fui em busca do conserto, sem sucesso. O Zé, da engenharia aqui da Tv, gentilmente examinou o falante e recobrou-lhe as forças. Imagine a alegria do dono!
O episódio encontra eco no texto do Rui Bittencourt, enviado pela minha sogra:
DESABAFO. A IDADE…E O MEIO AMBIENTE.
“ Na fila do supermercado o caixa diz a uma senhora idosa que deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não eram amigos do meio ambiente. A senhora pediu desculpas e disse: “Não havia essa onda verde no meu tempo.”
O empregado respondeu: “Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com nosso meio ambiente. ”
“Você está certo”, respondeu a velha senhora.
Naquela época, as garrafas de leite, de refrigerante e de cerveja eram devolvidas à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reúso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.
Realmente não nos preocupávamos com o meio ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisávamos atravessar dois quarteirões.
Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o meio ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.
Mas é verdade: não havia preocupação com o meio ambiente, naqueles dias. Naquela época só tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?
Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo, não plastico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar.
Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama. Era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisávamos ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade.
Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos. Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de comprar uma outra. Abandonávamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos ‘descartáveis’ e poluentes só porque a lâmina ficou sem corte.
Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou o ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.
Então, não é risível que a atual geração fale tanto em meio ambiente, mas não queira abrir mão de nada. Não seria bom viver um pouco como na minha época?
Com o inseparável radinho de pilha da década de 90, o meu pai acompanhou, com alegria, a vitória do Bahia contra o Atlético Paranaense e ouviu seu time escapar da zona do rebaixamento, nessa semana.
A sabedoria dos mais velhos pode ser música para os ouvidos!
[Reflexão Pessoal:
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