E mais um ano se inicia e novos desafios serão traçados e novas derrotas e novas vitórias surgirão. Como corredor, devoto de São Silvestre, passei meu reveillon correndo ao lado da minha irmã,nesta que é a prova de corrida mais famosa e mais bacana de SP. O novo trajeto não agradou, mas serve como metáfora para a vida, pois as vezes os caminhos são modificados por forças maiores e mesmo sendo desconfortáveis para nós, servem de aprendizado e se tornam provedores de novas emoções e surpresas.
O triste é você após ter lavado sua alma com o suor decorrente dos 15 kilometros percorridos, circular pela Paulista pós-corrida e observar diversas pessoas dormindo na rua, no frio, sendo ignoradas por todos. Será que um dia este nosso mundo vai criar jeito? Será que a felicidade de uns poderá não vir a ser mais a infelicidade de outros? Qual a lógica do acúmulo excessivo de riqueza e a da falta de bens básicos em outra ponta? Eu confesso que por ser ignorante e não compreender esta matemática, choro. Talvez por ser bobo, por não ter crescido o bastante para compreender que no mundo capitalista o que importa é o multiplicar e jamais o dividir. Um mundo onde se veicula na TV um programa estúpido onde cinco mulheres mais estúpidas ainda esbanjam toda sua fortuna e futilidade, como se vivessem em outro planeta. Claro que um planeta mais estúpido ainda que o nosso, como se isto fosse possível.
Por sorte ainda há pessoas, poucas, muito poucas, mas que ainda se importam em fazer o bem e porque não, realizar o sonho de outras. E falo de pessoas que não gastam mil reais numa garrafa de champagne brindando o nada na Oscar Freire em frente a uma criança de rua chorando de fome (eu vi esta cena e com uma das protagonistas do programa tosco sobre mulheres ricas), mas sim de pessoas com um poder aquisitivo bom, por obterem sucesso em sua área de trabalho, mas que não congelaram seu coração para o próximo.
Pessoas como um grande amigo meu que realizou o sonho de uma criança que viveu momentos complicados e de certa forma terríveis, mas que foi agraciada graças a este amigo, com uma viagem de sonhos e o presente de memórias eternas de extrema felicidade que sem sombra de dúvida sobrepõe-se sobre qualquer outra. O mundo encantado e mágico de Walt Disney tem este poder de renovação e de construção de boas e sólidas memórias. Os idiotas vão se ater ao fato de Disney ser clichê demais, como se a fome, a miséria humana e a indiferença também não fossem clichê nesta nossa sociedade. E convenhamos um clichê bem mal cheiroso. Fico com o perfume nostálgico da fantasia Disney, onde todo dia é celebrado como ano novo, com um espetáculo de fogos, renovando assim sua alma para o dia seguinte. Seria como aniversariar todo dia, afinal todo dia aprendemos algo e todo dia temos de celebrar a sorte de estarmos aqui. No mundo mágico de Walt Disney tudo que é, por sua vez, não seria e o que não fosse, por sua vez, seria.
Animais agem como pessoas, bonecos falam, casas se mexem, castelos mudam de cor, de tamanho e de textura, tudo para deleite dos seus olhos, mas ainda mais para alimentar sua imaginação e construir sorrisos que trazem com ele a esperança. Como diria Peter Pan, é só pensar numa coisa boa que num instante você voa. Recentemente cientistas descobriram que vivemos mais, se eliminamos de nossa memória os maus momentos. De acordo com a ciência, mude seu passado para melhor e viva muito mais. Sei que a vida não é nada fácil, mas uma colherada de açúcar sempre ajuda o remédio a descer mais fácil. Espelhe-se num doce sorriso dado na infância e o imprima na sua alma. Arregale um sorriso maior do que o do gato da Alice, mas não se esconda atrás desse sorriso e sim, mostre o que você é e quem você é! Não feche os olhos para a sujeira do mundo, e mesmo que se ache incapaz, faça algo para limpa-la, para mudar as regras impostas e que você não concorda. Olhe a sua volta e veja o quanto pode ser mudado e como você pode fazer alguém feliz. Qual a última vez que você deixou o seu coração decidir algo?
Qual a última vez que você foi o escultor de um sorriso na boca de uma criança? Será que não está na hora de deixar se levar pelo capitalismo desenfreado de acumular e acumular para nada? Não importa o quanto seu coração esteja aflito, pois enquanto você acreditar, o sonho há de se realizar. Nas palavras de Shakespeare: “... o amor é como a criança: deseja tudo o que vê.” E às vezes até consegue, mas mesmo assim, não desiste nunca. Ame como uma criança! Viva como uma criança. Sorria como uma criança e acima de tudo, não se leve tão a sério. Viva seu sonho da infância. Aquele escondido num canto da sua mente e que nunca se apagou. Está só esperando você chama-lo para brincar.
Um sonho é um desejo que seu coração faz não apenas enquanto você estiver dormindo, mas sempre. Nos sonhos você abrirá seu coração e o que quer que deseje para você, você terá.
Autor: Maurício Nunes,
é dramaturgo, músico, jornalista e cinéfilo, com livros sobre o tema.
Seu blog: Programa Cinelandia
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