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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Faltam alimentos para não passarmos fome em 2050

03.09.2010 - 07:29 Por Nicolau Ferreira
A diminuição da cultura dos cereais tradicionais leva à subida dos preços
A diminuição da cultura dos cereais tradicionais leva à subida dos preços (Georges Gobet/AFP)

Em quatro décadas a Terra vai ter que alimentar nove mil milhões de bocas. Para Cary Fowler, director executivo do Global Crop Diversity Trust, o maior desafio não é a urbanização ou a falta de terreno agrícola, mas as alterações climáticas que vão exigir novas variedades de alimentos capazes de resistir ao calor e à seca. A salvação pode estar na natureza.

O norte-americano Cary Fowler não tem dúvidas: é necessário adaptar as culturas agrícolas que temos aos tempos que vêm aí. Ou escolhermos outras, que hoje não reconheceríamos se estivessem nos nossos pratos, se forem mais resistentes ao clima que cada região vai viver nas próximas décadas. A alternativa é vermos a produção decair e tornar-se mais cara. Tendo em conta que em 2050 a estimativa média da população mundial vai ser de nove mil milhões de pessoas - um terço a mais do que quando aterrámos no novo milénio - e a necessidade de comida vai subir 70 por cento do que é hoje, a alternativa é a fome.

O Governo britânico está preocupado com esta questão e decidiu olhar para todos os factores que vão influenciar a alimentação mundial. Saíram por isso recentemente 21 artigos de revisão na revista científica britânica Philosophical Transactions of the Royal Society B, acessíveis a todos.

O prefácio, escrito por John Beddington, o principal conselheiro científico do Governo, diz que "o desafio não é apenas aumentar a produção de uma forma sustentável, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa e preservando a biodiversidade". É também necessário "tornar o sistema dos alimentos mais resiliente à volatilidade, tanto económica como climática".

A avaliação global dos 21 artigos dá uma perspectiva ligeiramente animadora do futuro da alimentação. Uma visão não partilhada pelo director executivo da Global Crop Diversity Trust - uma parceria público-privada para a manutenção da diversidade biológica das variedades de culturas agrícolas, que recebe dinheiro de vários países e de fundações como a Rockefeller ou a Bill & Melinda Gates.

"Acho muito interessante que os economistas façam projecções sobre 2050 e digam coisas como "o mundo tem de produzir mais comida". Do meu ponto de vista, não há nada de automático nisso", disse Cary Fowler em conversa com o PÚBLICO quando esteve em Lisboa, para dar uma palestra no 28.º Congresso Internacional de Horticultura. "O mundo não precisa de produzir mais comida para a nossa espécie, as culturas agrícolas são domesticadas, não são selvagens, dependem de nós para se adaptarem a novas condições."

Em 1950, quando Fowler nasceu, a população mundial ainda não tinha chegado aos três mil milhões. Mas, desde aí, apesar da terra cultivada só ter aumentado dez por cento, a comida por pessoa aumentou 23 por cento, mesmo que a população seja hoje mais do dobro. As desigualdades na distribuição é que fazem com que um sétimo da humanidade passe fome e outro sétimo tenha comida a mais. Como é que isto é possível? "A terra com agricultura irrigada duplicou, a quantidade de água utilizada triplicou, a quantidade de fertilizantes é 23 vezes mais, a quantidade de pesticida é 53 vezes mais", explicou o especialista.

Não será possível continuar simplesmente a dedicar cada vez mais terra à produção de alimentos. A agricultura tornou-se intensiva, o que permitiu um rendimento muito maior, mas este impulso não é infinito. "Não vejo que possamos produzir alimentos da mesma forma no futuro, porque a água, a terra, a energia e os fertilizantes não vão estar disponíveis como estiveram no passado. Para mim, isso devolve a questão à agronomia, às práticas agrícolas e à reprodução de plantas", apontou Fowler.

Fonte: Público

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